2014 08 - França

Dia 1: ao encontro do ferry-boat
A viagem teve o seu início nos primeiros dias de agosto de 2014.
Partimos assim que o sol despertou.
O entusiasmo era grande e a tensão para que que tudo corresse bem, também.
Tratava-se de um dia que, aparentemente, não teria grande história.
O objetivo estava traçado, o porto de Gíjon era o destino.
Optámos por escolher uma rota que nos levasse da forma mais rápida possível ao encontro do ferry-boatA auto-estrada (Braga/Gíjon, por Chaves - A7/A24, Léon - A52, A66/AP66) foi a rota escolhida.
Depois de uma paragem "técnica", ainda em terras lusas, para tomar o pequeno almoço e atestar os depósitos, entrámos em terras de nuestros hermanos onde a grande maioria das auto-estradas, apesar de não terem a qualidade das nossas, têm uma grande vantagem: não são pagas. A exceção é feita numa parte do percurso, depois de passar a bela paisagem de Los Barrios de Luna.
Fizémos mais duas pausas técnicas e cerca e sete horas e trinta minutos após a saída de Braga, (o tempo incorpora uma hora a mais correspondente à diferença horária), tranquilamente, chegámos ao Porto de Gíjon.
É aqui que nasce o primeiro imprevisto..., um dos nossos cartões do cidadão tinha ficado no digitalizador, em casa! A alternativa seria... a carta de condução.
Após receosos minutos de expetativa, conseguiu-se que o referido documento servisse para que a travessia fosse efetuada. Assim, calmamente (após dois postos de controlo), acedemos à embarcação. (nota: tivémos sorte com a falta do cartão de identificação..., não experimentem...)
Curiosamente, a tripulação era quase toda portuguesa, exceção feita ao comandante e ao pessoal das máquinas que eram italianos. Foi extamente um italiano simpático e cuidadoso que tratou de colocar as motas em segurança, no seu devido lugar, no porão do navio.

Umas dez montadas, de todos os gostos e feitios e de variadas nacionalidades, foram devidamente agrupadas num dos 9 decks do barco.
Depois de devidamente travadas foram amarradas, por forma a que a ondulação existente durante a viagem não as tombasse.
O resultado final está evidente na fotografia, em baixo.
 
 
Tudo pronto para partir.
Entrámos e dirigimo-nos ao local do check-in. Contudo, para quem não tem cabine reservada este procedimento é desnecessário... , coisa de principiantes neste tipo de viagens. Mas, em bom tempo o fizémos, pois descobrimos que a embarcação estava lotada mas que é normal faltarem sempre passageiros.
Colocámos o nosso nome em lista de espera para uma cabine e, passado uma hora, informaram-nos que poderíamos baloiçar nas ondas na horizontal, após o pagamento de mais 81 euros. (O camarote acomodava 4 pessoas em camas de largura adequada, lençóis e toalhas limpos. Dispunha de casa de banho privativa, o que permite um conforto a não desprezar).
Depois deste rasgo de sorte, colocamos, de imediato, o nosso nome em lista de espera para o regresso... Restou-nos ir para para o bar deliciarmo-nos com as iguarias que tínhamos comprado  numa panaderia espanhola. Frescas e grandes canecas de cerveja ajudaram a empurrar as calorias e a preprarar-nos para uma noite muito calma.
 
Uma nota para os futuros viajantes: as cadeiras que o navio oferecia para que os passageiros pudessem dormir eram grandes, confortáveis e com tanto ou mais espaço entre elas do que os cadeirões de executiva a bordo de um avião de boa companhia. Porém, esperavam-nos muitos quilómetros e a noite anterior tinha sido de pouquíssimo sono para um dos casais, daí a opção pelo camarote.

 
Foi assim que tranquilamente chegámos ao final do primeiro dia de viagem.
O nosso objetivo para a jornada tinha sido devidamente cumprido e esperava-nos, após um duche quentinho, uma noite muito tranquila e silenciosa, em navegação, no Mar Cantábrico que faz parte do Oceano Atlântico.
 
 

Dia 2: por terras do Mont Saint Michel

Acordámos cedo e por vontade própria. Há lá melhor coisa do que deitarmo-nos num país e acordar noutro, bem longe! A sensação, ao olhar por uma das janelas da proa do navio, não poderia ser melhor: estávamos à entrada do porto de Saint-Nazaire. O Deus Sol Invencível (como o apelidavam os romanos) marcava todo o cenário.
Apesar de alguma nebulosidade, estava um verdadeiro dia de verão, o que ia de encontro às previsões metereológicas. (Mais lá para a frente as previsões falharam em toda a linha...)
 
 
 
Atracámos à hora prevista (8:00h, hora local). Abriram as portas que davam acesso aos veículos (assim que iniciou a navegação estas foram fechadas por razões de segurança) e dirigimo-nos ao nosso deck. Montámos nas motas, ligámos os GPS e "partamos que se faz tarde!" Mais dois controlos de chapa de matrícula e identificações e... a estrada era nossa.

Rodámos diretos ao hotel romântico, ajardinado e bordejando as margens do rio Sélune (ao que parece o único onde em França se pescam, ainda, salmões (sim, salmões) selvagens. O hotel, em Ducey (a 20 km do Mont Saint Michel), estava bem cotado no tripadvisor, quanto às lides culinárias da nouvelle cuisine, mas como a nossa intenção era deixar a pouca carga e chegar tarde já com as chaves dos quartos, por alí não jantámos.
 

 
Porém, antes de chegarmos ao hotel, passámos por pitorescas aldeias do Loire Atlantique. Numa delas (Guanrouet), ao pé de uma Igreja de belos vitrais, tomámos café, comprámos fruta. Cinquentinhas, motoretas a pedais é coisa que se continua a ver muito no campo francês. As mobiletes com as baguetes presas na "bagageira" são uma imagem de marca.
 

paisagem pelo organizado campo francês foi uma constante dos nossos trajetos. Cedo nos habituámos aos campos sem fim, aos fardos de palha, aos tratores, às máquinas agrícolas de grande porte, às vinhas, às vacas... e aos bons bifes que delas degustámos.

Desde 1979 na lista de património mundial da UNESCO, o Mont Saint Michel, ex-líbris de França, dispensa apresentações. Vale bem a pena a visita, este símbolo da identidade francesa que resistiu, inexpugnável, a todas as tentativas inglesas de assalto, aquando da Guerra dos Cem Anos (entre a França e Inglaterra). O Mont Saint Michel e a sua enorme baía são o local mais visitado da Normandia. Pensa-se que no séc. VIII o bispo de Avranches terá mandado construir o mosteiro que dá o nome a este ilhote rochoso na foz do rio Couesnon.
 

Como se visita esta fortaleza? Bem, o acesso pode ser feito a pé, de bicicleta ou nos autocarros afetos aos turistas. Máquinas a motor, só mesmo os pequenos veículos motorizados que circulam dentro das ruas do íngreme monte.
As motas ficaram, pois, num estacionamento pago a cerca de 2 km de distância. Os 6 € entregues ao Estado francês (que anda há anos a requalificar a baía e todo o monte) incluem o transporte ida e volta de autocarro para o monumento.
 
Esperam-nos muitas escadas que depressa são esquecidas, tal é a quantidade de recantos a apreciar, fotografar e filmar. Muitos turistas significa muitos restaurantes, muitas lojas de recordações e muitos anúncios de especificidades. Foi bom demorar o olhar nas bem preservadas casas medievais com muitos séculos, mas cheias de vida, porque albergam as pessoas que ali vivem e preservam os seus negócios.
Podemos imaginar os cruzados a passarem por ali...
 

 
 
Finda a visita, voltámos às motas para mais umas filmagens, pois o Monte Saint Michel é magnético e clama por objetivas.
Em breve (2015), segundo informação que colhemos no local, a estrada em alcatrão que hoje leva os autocarros será destruída, ficando a nova estrada (uma espécie de passadiço em madeira e cimento) a pairar sobre as águas que, entretanto, voltarão a inundar a assoreada baía. Preocupações ambientais e estéticas levaram a estas melhorias que todos poderão usufruir.

Decidimos jantar fora do bulício turístico e fomos presenteados com um inesperado (porque bom e barato) jantar com vista para o Monte. O restaurant, crèperie au metre, denominado L'archange (como o arcanjo São Miguel que encima, a 170 metros de altura, a abadia com o seu nome), anunciava as moules frites como especialidade e... cumpriu. Ali deliciámo-nos com as ditas moules (mexilhões), bifes, espargos, batatas fritas e sobremesas copiosas que fizeram sorrir os mais gulosos. O repasto foi antecedido por uma entrada de uma espécie de omolete com um metro de comprimento...
 
Alguma cerveja e café depois, abalámos para o Hotel, em Ducey. Ali, esperáva-nos uma festa local surrealista. Carros alegóricos com os motivos mais estranhos e desencontrados (marcianos, debutantes do quadro campestre, deusas das colheitas, haitianas, misses, rebuçados e confétis, doçuras e travessuras... e outras bizarrias) fizeram-nos pensar nos livros de BD do Astérix e Obélix, quando os romanos diziam "... estes franceses são loucos!"

 

Deambulámos pela vila, rimos muito e fomos dormir cansados e felizes com as paisagens bucólicas e os pequenos prazeres da vida.

Até amanhã!

(A escrita continua nos intervalos dos afazeres da vida...)
 
 
 


DIA 3: a praia de Omaha, o cemitério americano e as ostras de Deauville

Quando planificámos a viagem, decidimos que este seria o dia mais duro da viagem e... assim foi. Pelos quilómetros (cerca de 500 km e pelas visitas e, depois soubemos, pelas peripécias...).
Sim, poderíamos ter feito menos quilómetros, mas não era  a mesma coisa... Vimos muito e com intensidade, num curto espaço de tempo. Fomos exatamente onde queríamos ou... quase.
 
 
Depois de uma noite bem dormida e de um petit dejèneur rejenerador, avançamos rumo à praia de Ohama , local emblemático nas comemorações dos 70 anos do dia D (onde desembarcaram, a 6 de junho de 1944, as tropas aliadas).
 
 
Na Normandia os hóteis estavam com ocupação plena há cerca de um ano.
Nas inúmeras aldeias em que passámos, encontravamos sempre algo alusivo à efeméride, fossem bandeirinhas dos países beligerantes em albergues, hóteis, até a museus dedicados aos eventos da guerra, passando por publicidade a eventos culturais, concertos, cerimónias religiosas, entre outras atividades comemorativas.
Ao estacionamento do cemitério americano, seguiu-se uma revista, logo à entrada do museu que antecede o jardim onde se encontram sepultados 9000 jovens. Um mar de cruzes e algumas estrelas de David brancas impressionam todos os que ali, de algum modo, prestam homenagem às vidas ceifadas pelos nazis. 
 
 
Encontra-se gente de todo o mundo. Muitos americanos, canadianos, australianos, neozelandezes, alemães, franceses... e portugueses.
 
Visitado o cemitério e visionado o pequeno filme que evoca, de muito perto, 4 ou 5 dos militares e civis mortos naqueles fatídicos dias, regressámos às motos. Tinhamos estacionado ao pé de duas GS 1200, de matrícula portuguesa. Encontrámo-los à saída. Um casal vinha da ilha de Santa Maria, nos Açores. O outro motard era de Lisboa. Visitavam a Bretenha e a Normandia. Tinham demorado dois dias a chegar. Levaram consigo um saquinho de areia da praia. Nós, quanto menos peso melhor, dissemos-lhes. Trocámos uns minutos de conversa sobre as motos, os consumos, os problemas e outras viagens. Falaram-nos muito bem da Noruega. Ambos tinham as malas das máquinas bávaras cravadas de autocolantes que denunciavam que já tinham andado por mais continentes.
 
 
Saímos daquele espaço telúrico e fomos às outras praias, numa das quais parámos para tomar uma refeição ligeira, com vista sobre os portos artificiais trazidos pelos aliados e que se tornaram testemunho vivo da história.
 

Por vezes os GPS pregam-nos partidas e demos uma voltinha a mais pelo campo, o que nos fez perder tempo, pelo que decidimos cortar uma das aldeias históricas, e logo Beuvron-en-Auge, que pena... Nos passeios temos sempre de ser flexíveis e mudar os planos quando é necessário.

Seguimos para Deauville. Cidade à beira mar, chique, mostra aos seus inúmeros visitantes as suas belezas com alarde: casino, marina, palácios, campos de golfe, hipódromos (onde as corridas de cavalos movimentam muitas notas azuis e verdes), enormes casas solarengas, o festival de cinema americano, etc. Apetece lá ficar uns dias a ver se nos cruzamos com a Angelina Jolie. Na falta de tempo... fomos comer camarões e ostras numa esplanada, junto ao mercado dos mariscos, em que o champanhe era Rei (infelizmente bebemos quase todos Orangina, recordando a sua existência em Portugal). Porém, estivémos lá bem.

Arrancámos para Honfleur. Bela vila de traçado medieval, junto ao mar. Repousámos junto de uma mole humana de italianos que compraram todo um stand de GS's. Tirámos fotos, comemos gelados, tomámos café e admirarámos um lindíssimo carrossel com 100 anos de idade. Partimos com alegria, ademais tinhamos acabado de evitar uma demorada fila de 1 km de enlatados, para entrar naquela distinta comuna francesa da Baixa-Normandia. 
Andar de moto tem muitas vantagens...


 
Num instante estavámos no cimo da grande e movimentada ponte da Normandia que, sobre o rio Sena, liga Honfleur a Le Havre. As motas, passando pela direita, nao pagam... sim, incrível... não pagam, não pagam mesmo!
 
Tomámos uma estrada motard e rolámos ate Rouen. Nesta viva cidade, admirámos a moderna igreja erigida em honra da heroína e santa Joana d'Arc. Compiègne, foi pernoita para os dois casais, muito perto da cidade-luz.
 
A viagem entre Rouen e Compiègne foi um pouco dolorosa, até pelo avançado da hora, pois esperava-nos cerca de 2:30h de asfalto em noite escura.

Fizémo-nos à estrada. Cerca de 1,5 horas depois, à entrada de uma auto-estrada, ambos os motociclistas pararam. Um porque lhe deu o sono, na monotonia noturna dos traços brancos da estrada. O outro porque as ostras lhe cairam mal. Diz o primeiro para o segundo, depois de encostarem à berma: "Preciso de comer um doce e beber algo." O outro, ouvindo falar em comer, faz uma cara muito, mas muito estranha, coloca a mota no descanso lateral, corre uns 20 metros, inclina-se sobre os rail e envia as ostras para cultivo de terras férteis... Não foi bonito de se ver..., mas lá que lhe deve ter sabido bem... isso sim, certamente que soube pela cara de alívio que apresentava (um sorriso de orelha a orelha)!

Estivémos perante um caso de um grande investimento (ostras) perdido em terras gaulesas.... que desperdício!

Moral da história: a custo, lá chegamos ao destino, fizemos o check-in no hotel, também a custo e a avançadas horas, e fomos descansar os esqueletos!

Visualize, aqui, o resumo da viagem do 3.º dia em vídeo

 

Dia 4: Reims, Épernay e a avenida do champagne

Depois de termos dormido com grande intensidade num hotel, que considerámos o pior da viagem, tínhamos planeado um passeio a Champanhe com um dia de sol digno de registo.

Com o pequeno almoço tomado constatámos que as previsões meteorológicas falharam redondamente. Apesar de não ser uma chuva de grande intensidade, ela estava presente o que limitaria a nossa velocidade, o prazer de condução e aumentaria o risco inerente ao passeio.

Saímos em direção a Reims, com a chuva a dar-nos algumas tréguas cerca de 50 Km após o início do trajeto.

 

Aproveitámos a viagem para parar numa fonte de abastecimento (supermercado), o que deu origem à realização de um pic-nic num jardim, em frente à Catedral de Notre-Dame de Reims, belo monumento onde, entre outros monarcas, foi coroado Carlos VII, sob o olhar inspirador de Joana d'Arc, aquela que unira os franceses e escorraçara os britânicos.

Visitada a catedral, seguimos para uma praça contígua, local de bom enquadramento para apreciar a sua arquitetura, saboreando um aromático café e um suave chá  para um estômago mais sensível...

 

Entretanto, a chuva caía em crescendo e só abrandaria ao final do dia.

Nem por isso deixamos de percorrer os inúmeros quilómetros entre as vinhas do néctar que, segundo se diz, vem do tempo da ocupação romana.

 

A paisagem é deslumbrante e, contrariamente ao que pensávamos, as nuvens carregadas e a chuva a bater nos capacetes proporcionou momentos surpreendentes.

Durante o percurso fomos parando, ora para admirar as autênticas esculturas de vinhas, ora para satisfazer a gula das máquinas e dos respetivos proprietários.

Numa dessas pausas conversámos tranquilamente com os "nativos". Colhemos informações preciosas sobre o vinho champagne (aliás, provámos logo ali um delicioso mosto) e sobre restaurantes em Épernay, a charmosa cidade do champagne onde dormiríamos. Uma das criaturas com quem privámos, era desprovida de alguns dentes dianteiros, sorria tenuemente e, ao falar (muito), soprava um hálito de vários graus de alcolémia.

A cidade de Ay estava "fechada", muito embora fosse um normal dia da semana. Percebemos que tal se devia ao facto de estar tudo de férias, por forma a recuperar baterias para o início das vindimas, em setembro.

 

Por entre vinhedos e aldeias, cruzámo-nos, muitas vezes, com outros motard, que em velocidade reduzida (40/60 km/h) se confundiam totalmente com a paisagem. Desde Harleys em fogo, passando por italianas desmodrónicas, a japonesas com fama, a inglesas triunfantes e a germânicas da moda, de todos os gostos se encontravam duas rodas, quer conduzidas por homens, quer por mulheres.

O espírito de camaradagem ainda não está em desuso e os habituais cumprimentos eram frequentes, fosse em andamento ou parados. 

Ao chegar ao hotel estivémos a apreciar as motos. Com terra por todas as latitudes, parecia que tinham saído de uma pista do Paris/Dakar e não daquela belíssima verde região. Com efeito, corremos aquilo tudo! Quilómetros sem fim por vinhedos, bosques e pitorescas aldeias, planificados com a ajuda do guia da American Express dedicado a França.

 

A marcação no restaurante foi efetuada ainda no hotel e, como a chuva não dava tréguas, escolhemos o táxi como meio de transporte. Sim, táxi, pois estávamos em champanhe e não podíamos perder a oportunidade de beber tranquilamente e regressar ao quarto do hótel, passando pela Avenida do Champagne em grande estilo e sem quaisquer preocupações.

 

jantar foi magnífico. O atendimento correto e simpático. O champanhe que escolhemos era simplesmente soberbo. Tratava-se de um vinho com uma qualidade digna de registo. Homenageamos aqui o nome deste pequeno produtor: Vautrain-Paulet. Pedimos duas garrafas. Só não veio a terceira porque o preço era indecoroso. Que maravilha!

Para recordação restou-nos a fotografia, em baixo, com o mágico líquido arrefecendo no gelo, e, ainda, uma outra de um brinde emblemático. Aquando do brinde, a rolha não se perdeu. O artefacto de cortiça, depois de, devidamente trabalhado ao estilo MacGyver, transformou-se em pin! 

Este convívio nunca mais será esquecido, pois foi o corolário lógico do descanso dos viajantes. Um pouco como ir a Roma e ver o Papa!

Findo o repasto, os deuses estavam connosco, o horizonte apresentava-se quase limpo. Por conseguinte, regressámos a pé, alegres e satisfeitos com o facto de o céu não nos ter caído em cima da cabeça!

 

DIA 5: as caves Moet et Chandon e a Catedral de Chartres

 
Dormimos bem, tomámos o pequeno almoço e saímos, percorrendo a pé, a elegante Avénue du Champagne até ao palácio das caves Moet et Chandon. Marcámos visita para as 9:30 h. 
Aguardámos no majestoso hall. 
 
 
Uma francesa esquelética e vestida de negro fez a imperativa visita guiada em língua inglesa. Tinha aquele sotaque que os franceses têm a falar inglês... tão bem caracterizado na série "Alô, Alô!" Tirámos muitas fotos e corremos umas centenas de metros dos 27 km de túneis das caves. No fim da vista, que incluiu a revisitação da história da casa e a explicação de todo o processo de produção do champagne, chegou o momento da prova. Um flute normal para os homens e senhoras, acrescido de um extra imperial para as nossas companheiras.
Muito bom, sem dúvida, mas...e o que tinhamos ingerido na noite anterior, o tal do pequeno produtor, era muito melhor. Notava-se bem a qualidade das castas provenientes de vinhas mais restritas.
 
Saímos e visitámos um jardim público francês, na envolvência de um palácio, logo ali ao lado. Mais fotos de belos canteiros coloridos com inumeras espécies de plantas e flores. Há em França um notável fascínio por jardins, floreiras e espaços arbustivos e arbóreos bem delineados e arranjados, um pouco por todo o lado. É comum, ao entrarmos numa vila ou aldeia, vermos uma placa anunciar ao vistante, que seja bem vindo a um espaço florido.
 
 
Partimos passando por belos sítios junto ao Marne. Parávamos aqui e ali, contemplando os barcos no rio e as diversas espécies de aves que o sobrevoavam.
 
 
 
Passar por Paris foi um castigo. Chovia bem. A autoestrada desembocou na boca do leão, um trânsito infernal. As MP3 passavam por nós a acelerar forte no meio dos carros. Fizémos como eles e os outros motard. Ligámos os 4 piscas e lá seguimos percorrendo o meio das filas de carros e um lado para outro. Desencontramo-nos e voltámos a juntar-nos mesmo em frente à Catedral de Chartres.
 
O enorme e luminoso monumento gótico impunha-se na paisagem, ainda a quilómetros dele. Entrámos e vimos o que havia a ver. As Catedrais francesas estão em obras (as que visitámos). O Estado gaulês chama a si essa tarefa, dado que, desde a lei da separação da Igreja e do Estado (em França em 1905, em Portugal, em 1910, por Afonso Costa), é o dono desses espaços que se erguem pelos céus com vista a aproximarem-se do divino.
Alguns de nós não pedimos tanto. O divino, por vezes, resume-se, hereticamente falando, a quatro flutes de champagne. Há tanta sabedoria ali dentro... Tanta alegria, tanta paz.
 
Avançámosa até Blois. Antes parámos num restaurante aparatoso que prometia uns bons bifes ao estilo americano. O franchising tinha o nome de Buffalo Grill. Uma carne queimada depois saímos sem recomendar aquela cadeia de restaurantes. O Tripadvisor (vimos depois) também não é meigo nas críticas.a
 

 

Visualize, aqui, o resumo da viagem do 4 e 5.º dia em vídeo

 

DIA 6: les châteaux de la Loire

Depois de já termos rolado cerca de 2.000 Km apareceu um primeiro detalhe, no que diz respeito às motos. A Honda necessitava de lubrificação da corrente. O líquido tinha ficado em casa. Rapidamente encontrámos a solução no GPS. Sem eles a viagem também se fazia, mas a outro ritmo... não era a  mesma coisa.

Decidimos visitar o concessionário da BMW em Blois, Ets Papon S.A. A decisão não podia ter sido mais acertada e o desvio foi insignificante (7 Km).

Um tratamento digno de um VIP, se falássemos em terras de viriato. Depois de um café, de um chá e de uma visita pelas motos em exposição, eis que a corrente foi lubrificada por um simpático mecânico que ofereceu o spray... Nada foi pago. A BMW recebeu-nos, e à Honda, de um modo muito especial; a recordar.

O dia estava magnífico. Seguimos viagem para o maior palácio da região do Vale do Loire, Chambord. Segundo a UNESCO, em 2001, la Valée de la Loire é "uma excepcional paisagem cultural, de grande beleza, composta de cidades e vilas históricas, grandes monumentos arquitetónicos - os Châteaux - e terrenos que foram cultivados e moldados por séculos de interação entre as populações locais e as suas características físicas do ambiente, em especial do próprio Loire." (wikipedia)

O palácio que foi mandado construir (1519-1547), por D. Fernando I de França, para pavilhão de caça, é propriedade do governo francês. Cerca de 300 palácios enfeitam as margens do rio na região que é considerada o jardim de França ou o berço da língua francesa.

Depois de seguirmos alguns quilómetros pelo arvoredo da propriedade colocámos as motos no parque de estacionamento do palácio. Uma motociclo paga tanto como um carro: 4 euros. É excessivo para a qualidade do estacionamento que proporcionam aos motards. Não gostámos e estacionámos, à larga, fazendo uma espécie de voodoo ao redor das motos. Funcionou, pois quando regressámos, estava, ao lado das nossas motas, uma grande Rocket III de matrícula alemã, cheia de carga. Nada de enlatados ao lado.

A paisagem ao redor do palácio é fascinante. A sua arquitetura era arrojada para a época. Todo o palácio é simétrico. A curiosa e turbinosa escadaria central, diz-se, foi desenhada por Leonardo Da Vinci. Todo o edifício nos seus pormenores é soberbo. Depois da visita percorremos um pouco o jardim que se perde de vista no horizonte.

Tirámos umas fotos e tivemos de arrancar, com pena de não assistirmos a um espetáculo com cavalos. Com efeito, de uma escola equestre saiu, montada no seu equídeo, uma bela cavaleira que nos convidara a assistir ao espetáculo. Aquela paddock girl sabia mesmo cativar os turistas... mas lá seguimos viagem.

À saída de Chambord decidimos almoçar. Parámos no supermercado mais próximo, abastecemos e fizémos um novo e recheado pic-nic.

Foi durante esta pacata fase que, do nada, começaram a aparecer umas preocupantes manchas escuras no céu.

Por incrível que pareça, no Vale do Loire, tínhamos a previsão de Sol radiante em todos os dias de visita, mas, a situação estava a ficar negra, literalmente negra e com uma intensidade cada vez mais elevada.

Nada poderíamos fazer a não ser colocar as calças impermeáveis sobre as que tínhamos vestidas e continuamos o nosso percurso para mais uma visita que a todos recomendamos vivamente.

 

A seguir foi a vez da visita ao palácio designado como o Palácio das Sete Damas. O Palácio de Chenonceau foi construído no seculo XVI e dele "fazem parte" sete mulheres, das quais duas foram Rainhas de França.

A sua impressionante contrução sobre o rio Cher é admirável.

 

Os jardins, apesar de "relativamente"  pequenos são belos. Não os observámos (e à quinta medieval e sua horta) com o detalhe que mereceriam, pois a chuva caía impiedosamente.

Hora e meia após a fruição ao idílico local reunimos para fazer um ajuste ao planeado.

A dormida seria em Chinon e a rota até lá, inicialmente planeada, perfazia, aproximadamente, mais 120 km. Decidimos abortar o trajeto de passio a mais e fomos diretos a Chinon.

 

Durante a viagem os céus de França estavam cada vez mais escuros. As bátegas de chuva nos capacetes sentiam-se em crescendo.

De novo, decidimos parar para redefinir a estratégia. Foi abortada a ida a um restaurante em Chinon, dado que a nossa postura minimalista deixara-nos sem  roupa disponível (casaco e calças), após o dilúvio. Tivémos rapidamente de fazer compras para o jantar. Os supermercados em França fecham as 20:00h. Não têm a nossa produtividade...

 

Pão, chouriço, salame, presunto, patê, queijo, bolas de Berlim, saladas, salmão fumado e três garrafas de vinho tinto de Bordéus, entre outras coisas, entraram nas nossas mochilas. Rumámos ao isolado Turismo de Habitação Rural.

Chegamos ao Hotel e ficámos fascinados com o que tínhamos escolhido. A casa, tipo mini châteaux, era encantadora, acolhedora e... estava totalmente por nossa conta. Dois quartos decorados com muito bom gosto.

Depois dos preparativos de retirar as mochilas das malas descobrimos que a BMW C650GT ficou com um tom de alarme, digamos, muito sexy. Bem, um problema ligeiro que certamente teria uma fácil resolução em Portugal e que não afetava a condução. A justificação estaria certamente relacionada com a quantidade infindável de água que esta teve de suportar durante o percurso final... Coisas que não deviam acontecer, mas que, infelizmente, acontecem.

 

Independentemente disso o que é verdadeiramente importante é que os quartos eram espaçosos. Decidimos transformar o quarto maior num restaurante gourmet. Nada melhor que jantar, com duche tomado, descaços com meias quentinhas nos pés.

Enquanto jantávamos colocamos toda a nossa roupa exterior em quarentena na casa de banho. Os aquecimentos foram ligados na sua máxima potência. (Sim, desleixamo-nos na proteção de chuva, fiando-nos nos boletins metereológicos).

Depois de muitas peripécias e de uma noite de sono bem dormida acordámos com a roupa e equipamento secos para darmos sã continuidade à viagem.

pequeno almoço farto e variado esperava-nos na casa principal em Domaine de Givré. Fomos recebidos pelo proprietário. A mulher descansava de uma maleita noturna. 

 

Dia 7: dos monumentais chateaux à embarcação

 

Após o referido mata-bicho e mais fotos às vinhas, à piscina, ao gato endiabrado que escolhera as motos como recreio, ligámos os motores e rodamos lentamente com o objetivo de absorver toda aquela beleza campestre.

O sol despontara com uma intensidade muito superior ao nosso melhor cenário. Há momentos em que, de facto sentimos que andar de moto é um previlégio. Não passamos na paisagem, fazemos parte dela. O nosso campo de visão é alto e amplo, sem tejadilhos e otros apêndices de chapa que perturbam a continuidade da visão. Por vezes sentimos os elementos de um modo mais intenso, o que é muito bom.

A planificação levar-nos-ia a Saint Nazaire através das margens do rio La Loire.  O check-in, acontece duas horas antes do ferry zarpar, às 22:00h.

De Chinon até Saumur percorremos a margem maior do rio. A  estrada dava para todos, principalmente para as dezenas de famílias que vimos, percorrendo a pista ciclável (cerca de 800 km, segundo se lia num daquelas mini-toalhas de papel que colocam à frente de cada comensal nos restaurantes.)

Planícies com o rio a acompanhá-las e com a vista sobre alguns Chateaux que vão aparecendo….tudo estava harmoniosamente colocado na paisagem.

Depois de uma visita ao exterior do Chateaux de Saumur continuamos nas margens do rio, desta vez pela margem sul. Após uma das curvas, numa reta, avistamos um restaurante pacato com uma vista deslumbrante. Bandos de pássaros sobrevoavam o cenário.

Resolvemos parar e aproveitar esta agradável pausa para colocar os casacos, capacetes e luvas ao sol. Encomendámos uma tarte de cogumelos caseiros que, para além do aspeto cativante se revelou delicisa.

Depois de cerca de 1:30h de pausa, seguimos viagem rumo a Angers sempre com a companhia do Loire.

 

Percorremos Angers de forma sumária e a ideia que tínhamos (de uma pequena cidade) foi rapidamente desfeita. A cidade é muito bonita e de dimensão apreciável.

 

Depois de apreciarmos as imponentes muralhas da cidade, rumamos a Nantes onde estava projetada uma visita pela cidade e uma pausa para o lanche.

 

Assim aconteceu. Passeamos e parámos na magnífica cidade que é a capital do departamento de Loire-Atlantique, da região Pays de la Loire e é a terra de Júlio Verne.

 

Uma cidade que justifica uma paragem pela importância, dimensão (6.ª maior de França) e pela sua beleza (apesar de a ilha ter sido uma deceção) .

 

Uma pausa num prazentoso jardim suspenso na água serviu para repor a energia no seu nível correto por forma a que conseguíssemos chegar ao porto de Saint Nazaire.

 

Depois de mais uma descanso num relvado, comprámos o jantar (que aconteceria a bordo). Seguimos até ao porto onde fizemos o check-in, desta vez com mais custo, face à ausência do tal BI. Após uma breve conversa com a francesa da verificação da identidade... avancámos.

No regresso, o embarque foi mais demorado. Arrumadas as motas no barco, dirigimo-nos à zona do check-in com o intuito de avaliarmos o ponto de situação da nossa reserva para dormida na horizontal.

O nome de um de nós, era o primeiro na lista de espera, pois como referido anteriormente, tinha sido colocado na viagem que nos trouxe. Contudo a esperança era pouca a avaliar pelas informações recolhidas.

 

Como a situação estava fora do nosso controlo avançamos para as cadeiras e escolhemo-las adequadamente. Seguimos para o bar onde comemos tranquilamente, enquanto o barco acabava de ser carregado com os inúmeros camiões, carros, motos e caravanas, que faziam fila à entrada.

Cerca de 1 hora depois da hora prevista para a partida seguimos viagem rumo a terras espanholas.

Assim que o barco deixou o porto fomos ao check-in e fomos brindados com uma cabine exterior. Deram-nos uma cabine e nós mais 97,50 €.

Optámos por abandonar as amplas cadeiras e, tranquilamente, fomos para a cabine, igual à anterior, mas que dispunha de uma janela através da qual se podia ver o mar.

A viagem de regresso teve direito a fogo de artifício à saída do porto enquanto o mar, com um pouco mais de ondulação, fazia baloiçar, de forma ligeira, a embarcação que nos poupou costado, pneus e gasolina.  

Visualize, aqui, o resumo da viagem do 6 & 7º dia em vídeo

 

Dia 8: o regresso aos nossos châteaux

Chegamos a Gíon à hora prevista, ou seja às 13H.

Desembarcamos e efetuamos o controlo das matrículas e da nossa identificação enquanto saíamos do porto.

Tínhamos decidido, ainda a bordo, que o regresso aos nossos chateaux (as nossas respetivas casinhas) seria efectuado longe das auto estradas espanholas, tornando a viagem mais demorada, muito embora mais curta e agradável.

A decisão não podia ter sido melhor pois entre montanhas e rios, a paisagem cortava a respiração em cada recorte do relevo.

Parámos, cerca de uma hora depois de sair do barco. As pernas precisavam de descanso e o abastecimento quer às máquinas quer aos ocupantes era uma verdadeira necessidade.

Cornellana foi o local eleito, por indicação de um nuestro hermano, que, posteriormente, soubemos que era sábio nesta matéria. Entrámos na Sidreria -restaurante Casa Ricardo, em cuja porta de entrada anunciava o seu menú festivo domingueiro. Era uma casa típica cujos pratos, para além de "bem compostos", apresentavam um aspecto digno de virem a apaziguar os quatro cavaleiros.

Foi nesse momento que a preocupação de alguns, no que diz respeito às calorias, foi de imediato esquecida tornando este momento em mais um registo histórico desta epopeia. Vejamos: como primeiro prato saiu uma fabada asturiana e uma paella de marisco; no segundo prato aviaram bacalao à la sidra e carrilleras ibéricas guisadas; para  postresarroz con leche; mais gasosa, água e vino tinto D. O. Rioja. Café a rematar.

Infelizmente tivémos de voltar ao asfalto de forma mais célere do que a que a situação o merecia. O S. Pedro fez-se acompanhar de forma miudinha.

O rio Syl e as montanhas (chegámos a 1500m de altitude) foram um must. Entrávamos e saíamos de estradas e aldeias, vilas e cidades de um modo interessante, pois o tipo de estrada variava de um momento para o outro e, quando menos esperávamos seguia-se uma cidade grande vinda do nada.

Após Verín a chuva parou e a história deixa de ter encanto. Só pensávamos na rápida chegada a casa.

Depois de uma tirada noturna a rodar o punho direito com algum vigor, chegámos em segurança.

Para trás ficaram 2748 km de prazer... da estrada (e, talvez, cerca de 1000 km de navegaçao).

Para trás ficaram 8 dias intensos de mototurismo. Marcantes, nos aspetos culturais e sensitivos.

À chegada aguardava-nos uma mesa composta: rojões trabalhados em fogo lento e com sabedoria, bom vinho tinto alentejano e uma suave aletria. É bom ter pais assim...

 

Visualize, aqui, o resumo da viagem do 8º dia em vídeo

 

 

Nota

Dois dias depois, já completamente lavada e com dois risquinhos que memorizam esta magnífica história, a voz sexy do alarme da BMW C650GT deu lugar ao seu tom normal e, até hoje, não revelou qualquer tipo de problema de rouquidão. Tratou-se de uma situação pontual que, a seu tempo, será comunicada ao representante da marca.

De resto, nenhum problema... com as duas motos.

 

*** F I M ***

 

(Atualizado em 10/09/2014. Escreve-se em consonância com o Novo Acordo Ortográfico).

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